domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os candidatos da mudança

As actuais eleições primárias nos Estados Unidos da América estão a ser as mais mediáticas, espectaculares e equilibradas das últimas décadas. Há várias razões para isto acontecer: em primeiro lugar não existe nenhum “incumbent” na corrida, ou seja, nenhum presidente ou vice-presidente em exercício concorre para manter o lugar na Casa Branca, o que torna a eleição do lado republicano muito mais aberta. Depois o presidente Bush é um dos presidentes mais impopulares de sempre com taxas de aprovação abaixo dos 40%, logo o povo americano vê com muito entusiasmo e esperança a escolha do seu substituto. Por fim, temos talvez o factor mais importante: os candidatos.

No Grand Old Party (GOP) tínhamos o famoso mayor de Nova Iorque, aquando do 11 de Setembro, Rudolph Giuliani, o actor e ex-senador do Tennessee, Fred Thompson, o senador do Arizona e herói de Guerra, John Mccain, o governador do Arkansas, Mike Huckabee, o milionário e ex-governador do estado de Massachusetts, Mitt Romney e o libertinário e congressista do Texas, Ron Paul.

Já no lado democrata concorrem para o cargo mais importante do mundo uma mulher e um negro. À partida, a senadora de Nova Iorque e antiga primeira-dama, Hillary Clinton, e o senador do Illianois, Barack Obama, tinham a concorrência do antigo senador da Carolina do Norte, John Edwards, que tinha sido o candidato a vice-presidente na campanha de John Kerry em 2004 e o governador do Novo México, Bill Richardson, além de outros candidatos sem expressão. Cedo a corrida democrata se tornou a que mais atenção e emoção despertou, porque, pela primeira vez, um negro concorria com reais hipóteses de ser escolhido Presidente dos Estados Unidos e porque Hillary tinha boas hipóteses de se tornar a primeira mulher a ocupar a sala oval. Também Richardson poderia tornar-se o primeiro presidente americano latino.
Actualmente, e numa altura em que já seria suposto estarem escolhidos os nomeados de cada partido para a eleição nacional em Novembro, apenas a nomeação republicana parece decidida. John Mccain beneficiou de uma desastrosa estratégia de Giuliani, que, mais tarde, desistiu a seu favor, e de fracas prestações de Romney e Thompson. Depois de vitórias decisivas na Flórida e na Super Tuesday, que este ano foi apelidada pelos media americanos de Super Duper Tuesday devido ao facto de nessa Terça-Feira mais de 20 estados terem ido a votos, Mccain tornou-se o claro frontrunner do GOP e apenas permaneceram na corrida Huccabee que tem o apoio da direita evangélica e da ala mais conservadora do partido e procura o lugar de vice-presidente de Mccain e Ron Paul que tem uma agenda própria e apenas pretende passar a sua mensagem ao público.
Mccain é um republicano moderado, com alguns pensamentos mais liberais (como em relação ao aborto e aos homossexuais) e, por isso, é visto com alguma desconfiança por parte da ala mais à direita do partido de Lincoln. Mas John Mccain é um herói de guerra, ferido em combate, que esteve cinco anos em cativeiro no Vietname, tendo-se recusado a regressar a casa sem os seus companheiros e sempre foi fiel aos seus ideais, mesmo depois de ter sido humilhado e quase destruído politicamente após a derrota nas primárias de 2000 frente a George W. Bush. É por isso muito respeitado e será um forte candidato nas eleições gerais de Novembro. Neste momento, do lado republicano, as únicas dúvidas são quando assegurará Mccain oficialmente a nomeação e se terá o apoio incondicional da facção mais radical do seu partido.
No Partido Democrata, a dúvida subsiste e a corrida continua “too close to call” entre Obama e Hillary. À partida, a esposa do último presidente democrata surgia como a clara favorita já que era mais conhecida pelo grande público, era mais experiente e tinha por trás de si a grande máquina dos Clinton. Mas Obama ganhou no Iwoa e na Carolina do Sul, ganhou o ímpeto a que os americanos chamam de “momentum” e provou ser forte nos estados com maior presença de afro-americanos e nos estados onde a eleição é feita através do sistema de caucus (pequenas assembleias onde os apoiantes dos candidatos tentam convencer os outros a juntarem-se aos seus candidatos). Bill Richardson desistiu prematuramente e Edwars foi para casa antes da Super Tuesday e especula-se que poderá ser o vice-presidente do nomeado democrata, já que é um homem branco do sul e poderá trazer eleitorado que fugirá quer a Obama quer a Clinton. Pode-se agora dizer que Obama se encontra melhor colocado para ser o candidato democrata em Novembro, depois de ter ganho todos os estados após a Super Tuesday e de ter uma grande dinâmica de vitória que será muito difícil de contrariar, mesmo para Hillary Clinton, uma guerreira incansável. Este momento menos bom para a sua candidatura já se reflectiu em diversas saídas no seu staff de campanha, mas a 4 de Março vão a votos dois importantes estados que podem decidir, ou não, a corrida: Texas, o segundo maior estado americano em população, e o Ohio, que é dos estados mais importantes na eleição nacional por ser um “swing state”, ou seja, um estado que tanto pode cair para o lado democrata como para o lado republicano. Se Hillary ganhar esses dois estados a corrida continua, senão será, muito provavelmente, Obama o nomeado Democrata.

Na verdade, não se pode dizer que haja uma grande diferença entre as ideias de Obama e de Hillary, já que ambos têm um programa bastante semelhante, exceptuando algumas nuances, como por exemplo nos seus projectos para o sistema de saúde. A grande diferença estará na mensagem que transmitem e no eleitorado que atraem. Barack Obama tem baseado a sua campanha na ideia de mudança (veja-se o seu slogan de campanha: A change we can believe in), prometendo trazer uma nova imagem e uma nova atitude contrariando o status quo de Washington. O actual único senador negro dos EUA e apenas 5º da história daquele país tem conseguido o apoio esmagador das comunidades afro-americanos, assim como dos jovens e dos eleitores mais instruídos. Obama também tem recebido mais apoios entre os independentes e mesmo entre os republicanos do que a sua adversária. Já Hillary Clinton, apesar de também expressar vontade de mudança, fundamenta a sua candidatura na ideia de experiência e no facto de ser a melhor preparada para assumir o lugar da presidência e relembra constantemente os bons anos que os americanos passaram sob o leme do seu marido, Bill Clinton, especialmente no que concerne à economia. Economia que é um dos temas-chaves desta campanha, dado que nos Estados Unidos se vive um clima de pré-recessão. O eleitorado feminino tem sido preponderante no voto em Hillary, mas também os latino-americanos têm votado maioritariamente nela. Clinton tem a seu favor o facto de ter ganho nos principais estados, alguns deles autênticos bastiões democratas e sem os quais nenhum candidato liberal poderá vencer em Novembro, como, por exemplo, Califórnia e Nova Iorque. Mas, por outro lado, tem as desvantagens de ser alvo de uma relação amor-ódio por parte dos americanos: ou gostam dela ou a detestam (e por isso irá buscar menos votos aos indecisos) e de ser vista como fazendo parte do “establishment” de Washington.

Por cá, assistir-se-á com toda a atenção à continuação desta fantástica contenda entre candidatos que estão a dividir, mas, ao mesmo tempo, a apaixonar a América e o Mundo.


Mais informações sobre os candidatos estão disponíveis nas suas páginas web oficiais.

http://www.hillaryclinton.com/
http://www.barackobama.com/
http://www.johnmccain.com/

3 comentários:

Anónimo disse...

ja ganhou, ja ganhou...

Anónimo disse...

fogo stora você é que escreve. vê-se mesmo que é stora de português

Bjs

Anónimo disse...

e não escrevi com k e x, vai ter de me dar boa nota..